Também
fui dos que passou pela política de forma activa.
Como
membro e secretário da Junta de Freguesia; presidente da Assembleia
de Freguesia e vereador municipal.
Fi-lo
com o espírito de quem está a prestar um serviço ao seu país ou,
como foi o caso, à sua comunidade.
Em
espírito de missão.
Aliás,
sempre aceitei e entendi que a política é uma actividade nobre,
desde que desempenhada com objectivos de isenção, de entrega à
causa pública e de defesa do que é de todos.
Mas
a experiência não tardou a demonstrar-me que os bem-intencionados
não sobrevivem por muito tempo no mundo da política.
Quando
em minoria ou isoladamente, como foi o meu caso enquanto vereador, ou
abdicamos da nossa consciência e do livre pensamento, ou perdemos o
espaço de manobra, com qualquer iniciativa ou proposta a cair quase
sempre em saco roto.
Essa,
uma consequência quando se recusa, como sempre fiz, em alinhar nos
interesses de grupo ou subscrever a defesa de interesses pessoais.
Mas
foi na qualidade de vereador que vivi uma experiência deveras
agitada mas extraordinariamente enriquecedora, onde a minha posição
minoritária se tornou o “fiel da balança”, que no momento
próprio se inclinou para a decisão que achei moralmente aceitável
e que viria a conduzir à dissolução da primeira câmara no pós-25
de abril.
Tudo
ocorreu em 1986 e 1987, depois de formada a câmara do Fundão que
resultou das eleições autárquicas de 15-12-1985, com a seguinte
composição:
PSD/CDS
– 4 vereadores (PSD-2/CDS-2)
PS
– 2 vereadores
PRD
– 1 vereador
Com
a maioria PSD/CDS a dominar, a câmara parecia ter todas as condições
para funcionar normalmente.
Mas
o “casamento” PSD/CDS depressa começou a ser perturbado por
“infidelidades” ocasionais do CDS, cujos elementos se rebelavam,
juntando-se ao PS para formar maiorias de conveniência e assim
contrariar os cálculos e as votações do PSD.
Como
representante do PRD, a minha postura foi sempre a de evitar que me
envolvessem nos acontecimentos e dessa forma prejudicar as
deliberações que me eram possíveis e que pretendia fossem tomadas
a bem dos munícipes e do concelho.
Mas
a barafunda acabou por instalar-se.
Houve
deliberações de uns tentando declarar perdas de mandato de outros,
presidências assumidas por uns dizendo que os outros não tinham
legitimidade, convocatória de sessões para deliberações
declaradas ilegais pelos outros… até se chegar à intervenção da
polícia, chamada por uns para expulsar os outros, etc. etc.
Chegados
a esse ponto de indignidades, achei que era tempo de me retirar dali.
Decidi
renunciar e todos os da minha lista também assim fizeram.
Consequentemente,
a câmara veio a ser dissolvida. Era a primeira do país.
E para mim a grande lição do que não deve acontecer em política.
Antes
havia tido a experiência da freguesia, onde vim a ser secretário da
junta e presidente da assembleia.
Mas
foi enquanto secretário da junta que aconteceu o recenseamento
eleitoral, participando eu na comissão que o havia de levar à
prática.
E
quando se colocava a questão sobre qual o nome para a primeira linha
do caderno eleitoral número um, os companheiros sugeriram que
deveria ser o meu.
Assim
aconteceu.
Tal
como já deixei escrito atrás, entendo que a política deve ser
tratada com espírito de missão, mesmo quando se aplique o estatuto
de profissional.
Segundo
Aristóteles “o homem é naturalmente um animal político”.
Só
que o “animal político” a que se refere Aristóteles não tem de
ser um vampiro que apenas sirva para sugar o sangue da nação, que o
mesmo é dizer, a sua riqueza ou o aproveitamento do cargo em seu
favor e dos seus correlegionários.
No
meu caso, acho que a política até foi generosa comigo.