segunda-feira, 19 de outubro de 2015

E a política compensou-me com o “título” de ELEITOR Nº.1

Também fui dos que passou pela política de forma activa.
Como membro e secretário da Junta de Freguesia; presidente da Assembleia de Freguesia e vereador municipal.
Fi-lo com o espírito de quem está a prestar um serviço ao seu país ou, como foi o caso, à sua comunidade.
Em espírito de missão.
Aliás, sempre aceitei e entendi que a política é uma actividade nobre, desde que desempenhada com objectivos de isenção, de entrega à causa pública e de defesa do que é de todos.
Mas a experiência não tardou a demonstrar-me que os bem-intencionados não sobrevivem por muito tempo no mundo da política.
Quando em minoria ou isoladamente, como foi o meu caso enquanto vereador, ou abdicamos da nossa consciência e do livre pensamento, ou perdemos o espaço de manobra, com qualquer iniciativa ou proposta a cair quase sempre em saco roto.
Essa, uma consequência quando se recusa, como sempre fiz, em alinhar nos interesses de grupo ou subscrever a defesa de interesses pessoais.
Mas foi na qualidade de vereador que vivi uma experiência deveras agitada mas extraordinariamente enriquecedora, onde a minha posição minoritária se tornou o “fiel da balança”, que no momento próprio se inclinou para a decisão que achei moralmente aceitável e que viria a conduzir à dissolução da primeira câmara no pós-25 de abril.
Tudo ocorreu em 1986 e 1987, depois de formada a câmara do Fundão que resultou das eleições autárquicas de 15-12-1985, com a seguinte composição:
PSD/CDS – 4 vereadores (PSD-2/CDS-2)
PS – 2 vereadores
PRD – 1 vereador
Com a maioria PSD/CDS a dominar, a câmara parecia ter todas as condições para funcionar normalmente.
Mas o “casamento” PSD/CDS depressa começou a ser perturbado por “infidelidades” ocasionais do CDS, cujos elementos se rebelavam, juntando-se ao PS para formar maiorias de conveniência e assim contrariar os cálculos e as votações do PSD.
Como representante do PRD, a minha postura foi sempre a de evitar que me envolvessem nos acontecimentos e dessa forma prejudicar as deliberações que me eram possíveis e que pretendia fossem tomadas a bem dos munícipes e do concelho.
Mas a barafunda acabou por instalar-se.
Houve deliberações de uns tentando declarar perdas de mandato de outros, presidências assumidas por uns dizendo que os outros não tinham legitimidade, convocatória de sessões para deliberações declaradas ilegais pelos outros… até se chegar à intervenção da polícia, chamada por uns para expulsar os outros, etc. etc.
Chegados a esse ponto de indignidades, achei que era tempo de me retirar dali.
Decidi renunciar e todos os da minha lista também assim fizeram.
Consequentemente, a câmara veio a ser dissolvida. Era a primeira do país.
E para mim a grande lição do que não deve acontecer em política.
Antes havia tido a experiência da freguesia, onde vim a ser secretário da junta e presidente da assembleia.
Mas foi enquanto secretário da junta que aconteceu o recenseamento eleitoral, participando eu na comissão que o havia de levar à prática.
E quando se colocava a questão sobre qual o nome para a primeira linha do caderno eleitoral número um, os companheiros sugeriram que deveria ser o meu.
Assim aconteceu.
Tal como já deixei escrito atrás, entendo que a política deve ser tratada com espírito de missão, mesmo quando se aplique o estatuto de profissional.
Segundo Aristóteles “o homem é naturalmente um animal político”.
Só que o “animal político” a que se refere Aristóteles não tem de ser um vampiro que apenas sirva para sugar o sangue da nação, que o mesmo é dizer, a sua riqueza ou o aproveitamento do cargo em seu favor e dos seus correlegionários.
No meu caso, acho que a política até foi generosa comigo.
Compensou-me com o “título” de eleitor nº.1.