segunda-feira, 21 de julho de 2008

1967 - A primeira grande viagem

Estávamos em 1967, quando fiz a primeira grande viagem, fazendo-o até outro continente, o africano. Mais concretamente, até Angola.
E não foi propriamente para fazer turismo, embora hoje possa dizer que tive a felicidade de cumprir a missão que na altura era imposta a muitos portugueses da minha idade - a mobilização militar para a guerra nas antigas colónias - sem sobressaltos, apesar de um companheiro não ter regressado devido a acidente fatal.
A esta distância e na perspectiva de quem olha as coisas de forma positiva, quase a vejo como turística, tal a saudade que me deixou.
Tive a oportunidade, que de outra forma não teria, de visitar um país de grandes belezas e, na altura, com um estilo de vida que tanto agradava a jovens com vinte e poucos anos, como era o caso.
Mas as belezas naturais, como Quedas do Duque de Bragança, Pedras Negras, Barragem de Cambambe, Mussulo, Barra do Cuanza, para além de muitas outras, não esquecerei jamais .
Fui de barco - o Niassa - mas o regresso fez-se de avião, que também utilizei quando vim passar férias à então metrópole (o puto, para os nativos), a meio do tempo.
Foi na cidade de Salazar (primeiramente Vila Salazar), hoje N’dalatando, que decorreu todo o tempo de comissão militar, integrado no PAD/1245.
Uma cidade onde não se vivia com os problemas existentes noutros pontos de Angola ou noutras antigas colónias, com a luta pela independência.
Situada geograficamente entre Malange e Luanda, com uma boa via de comunicação, facilmente nos deslocávamos para um e outro lado, o que se fazia em cerca de duas horas.
Não admira por isso que nos déssemos ao luxo de “ir tomar café a Luanda sempre que nos dava na real gana”.
A cidade, como capital do Cuanza Norte, tinha sede do Governo Civil, Câmara Municipal, o Administrador da região, estabelecimentos prisionais e da antiga PIDE, estabelecimentos de ensino público e primário, que iam desde o primário ao secundário e técnico, para além do quartel em que também tinha o Comando militar da região norte.
Havia bons equipamentos sociais, como cinema, piscinas, rádio local, estabelecimentos comerciais, estruturas desportivas, restaurantes e cafés, o que proporcionava um ambiente muito agradável para quem ali passava uma comissão militar, como era o meu caso.
A população local ou em permanência prolongada era sempre bastante elevada e a integração na sociedade local era muito fácil.
Posso dizer que tive até o privilégio de ter sido convidado para quantos casamentos, batizados, aniversários, inaugurações de casas, ou outro tipo de festas que se fizeram em Salazar, tudo graças ao meu equipamento musical e acervo de músicas que então se tocavam, que me eram solicitados a todo o instante.
Também posso dizer que a música me franqueou todas as portas, me presenteou com a amizade de quase toda a população de Salazar e fez com que a comissão militar tivesse aquele cariz turístico que já referi, embora o longo e forçado afastamento da família a tornasse algo penosa.
Por todas estas razões bem desejava ver, ainda, Angola como um destino turístico por excelência.
Se assim fosse, com certeza que melhores seriam as condições de vida para o povo angolano, que bem merece um futuro mais digno e promissor.
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