sábado, 26 de julho de 2008

1995 - Na Holanda, com o grupo de folclore

As oportunidades nunca devem desperdiçar-se. Já o escrevi neste blog.
E a oportunidade de visitar a Holanda surge com o convite para que o Rancho Cova da Beira se deslocasse ao Festival de Warffum, no norte daquele país, representando não só o folclore beirão mas também o folclore português.
Havia contribuído para que o convite fosse feito através do casal Ben e Ria, que durante muitos anos fez férias no parque de campismo da Fundatur, e os responsáveis do Rancho Cova da Beira entenderam que os devia acompanhar também.
E em boa hora fiz essa viagem, que durou 9 dias.
Foi longa mas interessante a viagem de autocarro, começando por uma exibição do grupo em Paris, onde se realizavam as festas de S. João promovidas pela Rádio Alfa, impulsionadas por portugueses oriundos do Fundão.
A exibição do Rancho Cova da Beira em Paris teve também a minha própria estreia como apresentador, situação que viria a repetir-se no Festival de Warffum, na Holanda.
Em termos pessoais foi uma experiência muito enriquecedora, se bem que a nossa forma de estar o não tenha facilitado, visto que nos inserimos numa organização com um rigor extremo, em que os minutos contavam e eram respeitados no desenvolvimento de um programa com um figurino televisivo, que não se compadece com qualquer perda de tempo.
Só assim se compreende que este festival internacional - OpRoakeldais de Warffum - seja considerado, em termos organizativos, o 1º. da Holanda, o 1º. da Europa e esteja entre os 10 melhores do mundo.
O Rancho Cova da Beira foi, como já referi, o representante de Portugal entre 13 países que ali tiveram os seus grupos folclóricos, vindos de pontos do globo tão distantes como: República Checa, Bolívia, Noruega, Ucrânia, Colombia, Tibete, Hungria, Filipinas, Russia, Itália, Moçambique e a própria Holanda, que estava representada por dois grupos, o nacional e o da zona onde decorria o festival.
A exigência em relação a cada grupo era de tal ordem, que não se podia ultrapassar os minutos estabelecidos para a actuação, o que levou à necessidade de se cronometrarem todas as danças e cantares e assim elaborar o programa da respectiva prestação, com a devida antecedência.
A importância deste festival, que decorre em instalações exclusivas com capacidade para 3.000 pessoas que as enchiam diariamente, teve já o seu reconhecimento com a presença da própria rainha da Holanda.
Mas a sua realização também só é possível porque as populações das redondezas se disponibilizam para receber e alojar em suas casas os grupos participantes, cabendo ao Rancho Folclórico Cova da Beira ser alojado em casa de famílias duma pequena povoação a 16 Km de Warffum, chamada Middelstum.
Foi a família Gerard e Coba van Dijken que me acolheu e da amizade que daí resultou ficam os contactos constantes e a visita que em 1997 fiz de novo à Holanda, desta vez com a esposa, para assistir à comemoração das suas bodas de prata.
Também o casal Gerard e Coba teve a oportunidade de ser recebido em minha casa em 1996, 1998, visitando a Expo98, e em 2002, visitando diversos pontos do país.
Mas a presença do Rancho na Holanda teve também uma forte componente turística e social, pois as famílias de acolhimento proporcionaram-nos visitas a monumentos e locais de muito interesse.
A cidade de Groningen e suas redondezas, os diques, os canais e toda a actividade que através deles se desenvolve, mereceram a nossa atenção, mas o que realmente nos encantou foi o interior e o funcionamento de um dos típicos moinhos holandeses, cujo mecanismo se assemelha ao de um relógio gigantesco.
Uma outra visita que ficou na memória foi a que fizemos às instalações do que chamam a maternidade para focas, em que tratam e depois devolvem ao mar todas as que por acidente são apanhadas pelos pescadores, ficando enroladas e feridas nas respectivas redes.
O país das tulipas é de facto um encanto, tendo-nos proporcionado algumas lições de civismo que bem aproveitadas talvez ajudassem a mudar os nossos comportamentos.
Desde logo o respeito pela pontualidade, que em vários momentos levaram ao desespero os que faziam parte da organização junto das famílias de acolhimento, quando tinham de aguardar pela nossa tardia chegada, nas deslocações para o local onde eram feitas as exibições.
Também o respeito pela limpeza das ruas era seguido exemplarmente pelos cidadãos, não podendo sequer ser posto em causa com pontas de cigarro.
Mas aqui houve muitas violações por parte da nossa comitiva, levando a que numa esplanada nos fosse proporcionada a lição da "bofetada com luva branca", quando um funcionário de uniforme semelhante ao de um general, veio de pá e vassourinha e ostensivamente procedeu à recolha das pontas de cigarro que alguns iam deitando para o chão.
Uma outra lição quanto à defesa do ambiente é a que nos é dada pelas pessoas, quando de forma comportamental dizem não aos sacos de plástico em qualquer estabelecimento comercial, levando os seus próprios cabazes para o transporte das compras.
Se todos assim fizessem, quem ganhava era o ambiente.
De qualquer modo, num aspecto somos superiores e inigualáveis:- na forma de fazer comer.
Porque em gastronomia, ainda somos de facto os maiores e esta viagem bem o demonstrou.

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