quinta-feira, 6 de novembro de 2008

VIAJANDO NO TEMPO (2)

A PROPÓSITO DE 15 CENTÍMETROS
se a vida for medida ao centímetro, numa média de 75 anos.

Hoje a viagem na inversa que decido fazer, tem uma paragem no “miradouro” de onde se “observou” um momento de confraternização de antigos companheiros do serviço militar, cumprido em Angola.
Aconteceu em Oliveira de Azeméis, e a expectativa quanto a esta confraternização era a de terem decorrido mais de trinta anos desde que havia estado com a maior parte deles.
Reconhecê-los não foi tarefa fácil, nos primeiros instantes, mas depressa a memória nos actualizou quanto aos traços físicos que em todos nós permanecem, apesar do envelhecimento.
Foi um reviver do passado que nos rejuvenesceu, e os episódios de momentos vividos em comum foram trazidos até à actualidade durante umas horas, que também agora passam a fazer parte da história de um período marcante das nossas vidas.
E é num desses momentos em que o passado se recorda que, usando da palavra, estabeleci um paralelo entre os nossos anos de vida e a medida métrica, situando-a nos 75 anos, o que significava que a nossa vida média teria o comprimento de 75 centímetros.
Ora, se os 60 anos já decorridos correspondiam a 60 centímetros e aceitando que iria cumprir a média dos 75 anos, naquele momento faltavam-me 15 centímetros.
Foi o riso geral quando utilizei o termo “faltavam-me 15 centímetros” e o resto do dia foi de paródia pelos 15 centímetros em falta.
Veio o encontro do ano seguinte, a que não pude comparecer por ter outro compromisso, mas não deixei de fazer-me representar, enviando uma poesia a respeito dos 15 centímetros que “me faltavam”.
Ela aí fica:
I
De uma geração passada
Ao centímetro me fiz gente
Primeiro não era nada
Logo depois foi dureza
Sentida por homem potente
Cuja medida não pára
De se agitar com firmeza
Dando lugar a esta cara

II
Ao centímetro medindo a vida
Com vinte me fizeram magala
E já sem barba comprida
Fiz obediência a mandões
E lá tive de bater pala
Vezes sem conta ou medida
Só porque tinham galões
Ou uma farda vestida

III
Em dois furos da escala
Por Angola eu andei
Mas sempre tive na mala
Para servir a quem gosta
Suave música que dancei
Em terraço ou escura sala
E logo ela se encosta
Na medida que a embala

IV
Mas seja ela qual for
A medida é sempre exacta
Pois em momento de ardor
Nunca o centímetro contou
Nem quando a fome se mata
Alimentando o amor
De quem por nós suspirou
Como um hino de louvor

V
Uma vida assim medida
De um até setenta e cinco
Não é uma média comprida
Quando se chega a sessenta
E com quinze ainda brinco
De uma forma sentida
Esperando pelos oitenta
C’o mesmo amor pela vida

VI
Agora contai lá vós
A medida que vos falta
Mas ide trincando a noz
Nem que já vos falte o dente
Bem alto dizendo à malta
Que o quinze é bem feroz
Uma medida certa e potente
E capaz de erguer mós

Esta foi mais uma das “observações” que pude fazer de um dos muitos “miradouros” que existem ao longo do percurso na inversa, de viajando no tempo.
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