quinta-feira, 16 de outubro de 2008

CAMINHEIROS DA GARDUNHA

VIAJANDO NO TEMPO
É um tipo de viagem, na inversa, que tem como via de circulação um espaço ilimitado, “miradouros” sem fim ao longo do percurso e permite fazer todas as paragens que se queiram.
A observação nem sempre é nítida, pois a neblina que envolve o “panorama” tanto pode ser ténue como espessa.
Podemos socorrer-nos de apontamentos ou imagens que nos ajudem a dispersar a neblina, tornando a “observação” mais nítida. E é isso que por vezes faço.
Hoje decidi fazer uma paragem no “miradouro” chamado Caminheiros da Gardunha, observar o panorama e relatar o que “observei”.
O relato é feito na primeira pessoa, tendo em conta o tipo de diário-arquivo em que o faço e pelo vínculo pessoal para com os factos.
O ano de 1976 ia passando e eu, com alguns outros companheiros, vamos dando as nossas voltas pela Gardunha, nas manhãs de domingo.

A dada altura leio de alguém, chamado Doutor Balzli, o seguinte: ”Toda a planta e todo o animal que se afasta da Natureza para ser domesticado e converter-se em “companhia” do homem, perde as suas características originárias. E isso mesmo acontece ao homem que abandona o bosque e passa a vida entre quatro paredes. Todo o ser vivo que abandona alegremente a sua comunhão interior com a mãe Natureza sacrifica as suas características fundamentais e chega a conhecer a doença e a degeneração”.
Decidi então fazer um apelo para que as pessoas caminhassem pela Gardunha, através de cartazes afixados nalgumas montras comerciais. Na altura não havia fotocopiadoras e o mesmo tinha de ser elaborado manualmente, tantas vezes quantas as montras seleccionadas para os afixar.
A figura que então criei para o cartaz era adequada ao nome de Caminheiros da Gardunha e mais tarde havia de mandar fazer os crachás com o mesmo símbolo, que passaram a significar a condição de caminheiro a todo aquele que aderisse ao grupo.
Enquanto grupo não organizado, mas com metodologia funcional, tinha também no diploma que era passado a cada aderente, o correspondente vínculo.
Esta forma de funcionar, como grupo não organizado mas dotado de funcionalidade, foi então evidenciada pelo jornalista do Diário de Notícias, Oscar Mascarenhas, que em 1991 veio fazer uma caminhada na Gardunha, achando que a história era merecedora de atenção e análise, pelo facto de ser tão pouco vulgar.
Também espantado com a história ficou um componente do grupo da Portela de Sacavém, que em dada altura também veio fazer uma caminhada na Gardunha - essa não foi a única vez - devido à dinâmica do nosso grupo, conseguida sem que houvesse uma liderança formal, com a legitimidade de uma eleição ou de quaisquer estatutos.
Quando lhe foi explicado que não havia regras estabelecidas, maior foi a sua admiração, por considerar como tarefa quase impossível, que alguém conseguisse alcançar consensos que foram permitindo o funcionamento e as actividades do grupo, durante tantos anos. Mas os consensos foram conseguidos.
E para ajudar a compreender como foi possível o funcionamento, sirvo-me de uma frase, muito a propósito, que alguém escreveu:
“Ausência de regras é uma regra que depende do bom senso”.
As mais diversas actividades foram desenvolvidas, num clima de fraternidade invejável, com excursões, convívios, participações em actividades doutros grupos, convites a figuras públicas como a do então Secretário de Estado do Ambiente e deputado Macário Correia, que aceitou fazer uma caminhada com o grupo, em 1992. E chegamos a 1996 e 1997 com os primeiros corsos carnavalescos, organizados de forma expontânea em cima do acontecimento.
E a semente deu frutos, não mais deixando de organizar-se os corsos de carnaval, hoje um cartaz da região sob a tutela dos Caminheiros da Gardunha.
Em convívio nunca se dispensou a animação e a música, o que me levou a fazer uma letra para um hino próprio, que veio a ser musicado por um familiar, Manuel Alves dos Santos.

E a oportunidade para ser intérprete do próprio hino, surge através do Coro Intermezzo, a que pertenço, na comemoração do 10º. aniversário da criação da associação, que se mostra a seguir.

Em 05 de Março de 1997 o grupo constitui-se em Associação, adoptando a denominação de CAMINHEIROS DA GARDUNHA-GRUPO DE INTERESSE PELA NATUREZA, sendo eleitos os primeiros corpos sociais, que ficaram assim constituídos:

Assembleia Geral
Joaquim Nunes das Neves – Presidente
José Manuel Marques Gamas – 1º. Secretário
José Luís Roxo Rebordão – 2º. Secretário
Direcção
Álvaro Roxo Vaz – Presidente
Joaquim António Lourenço Monteiro – Secretário
Joaquim de Jesus Dias – Tesoureiro
Valdemar da Conceição Marques – Vogal
Joaquim José de Brito Martins – Vogal
Conselho Fiscal
Luís Abrantes da Silva – Presidente
José Filipe Duarte Gonçalves – Secretário
Albino Leal Nogueira Lobo – Tesoureiro

Também os estatutos foram desde logo aprovados, fazendo parte da escritura de constituição. A tomada de posse ocorre no dia 06 de Março de 1997. A preocupação ambiental, que o mesmo é dizer, a defesa da natureza esteve sempre presente, razão pela qual veio a constar do próprio nome da associação.
Mas do panorama "observado" desse miradouro, o que também ressalta com nitidez é o grande orgulho de estar na origem da criação das Caminheiros da Gardunha.
Outras paragens em “miradouros”, no percurso de “viajando no tempo”, hão-de acontecer, para aqui se contar a “observação”.
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