terça-feira, 29 de junho de 2010

Gesto de gratidão

Quase todos, ao longo da vida, são chamados a fazer alguma coisa pelos outros. Porém, nem todos respondem de forma positiva a esse chamamento.
Por falta de vocação para causas de voluntariado, por indisponibilidade, ou por qualquer outra razão, muitos são os que nunca viveram as experiências do associativismo, do desempenho de cargos em instituições de solidariedade social ou noutras onde tudo se faz por amor à causa.
Numa linguagem muito própria dos que a praticam, muitos são os que nunca passaram pela experiência da entrega pela simples “carolice”.
Ainda assim, há exemplos que não passam em claro e no momento certo a sociedade não deixa de lhes prestar a homenagem que merecem e manifestar-lhes a gratidão de que são credores.

Um desses casos foi o de Luís da Silva Carvalho, que em 28 de Novembro de 2008 teve a festa que merecia, pela sua entrega a inúmeras causas de voluntariado, tanto de âmbito local, como regional ou mesmo nacional.
Fiz parte da comissão de amigos que tomaram a iniciativa de lhe prestar tal homenagem.
Fui então incumbido da elaboração de uma revista que pudesse mostrar, de forma resumida mas suficientemente abrangente, todas as facetas da sua vida, cuja riqueza se pode resumir a esta sua forma de a encarar – “quem não vive para servir, não serve para viver…”.
Sendo muito grande o desafio a que me sujeitavam, não podia recusá-lo. Tanto pela amizade, mas também porque fui um inseparável “compagnon de route” ao longo das nossas vidas, conhecia a sua vivência nos mais variados aspectos.
Dos profissionais aos lúdicos, dos cargos por ambos desempenhados nas mais variadas instituições aos de companheirismo nas viagens de amigos ou familiares, foram-se acumulando conhecimentos mútuos e cumplicidades que iriam permitir agora um trabalho que, sendo exigente, seria também muito gratificante para mim. Assim eu conseguisse dar-lhe forma e desenvolvimento. E julgo tê-lo conseguido plenamente.
A base desse trabalho iria assentar numa só palavra – gratidão.
Se os testemunhos das mais variadas individualidades, plasmados para a revista, ajudavam nesse aspecto, havia que deixar bem clara a ideia de que a sua conduta fora merecedora da maior gratidão por parte dos amigos, em particular, e da sociedade, em geral.

O texto de abertura, da autoria do amigo Cónego Mário, não podia ser mais claro:

"A Gratidão
agradecimento é a primeira exigência do amor, porque todo o coração necessita de receber amor por amor. Seria incorrecto pensar que o amor perfeito ignora o desejo da reciprocidade.
A indiferença à mão que socorre ou ajuda, a indiferença à bondade, ao sacrifício, ao dom sincero não pode deixar de magoar o coração de quem faz o bem, embora continue a amar.
O próprio Jesus Cristo o constatou, com dor, quando, dos dez leprosos que tinha curado, só um voltou para LHE agradecer (Luc.XVII, 11 a 19).
A gratidão é uma virtude tão nobre que tem o condão de, simultaneamente, fazer feliz o credor e o devedor !
Os latinos definiam a felicidade no jogo de duas formas verbais: amare et amari “amar e ser amado” !
Como é bonito quando o agradecimento funciona !"

Deixaram para mim o texto de encerramento. E se alguma coisa eu já fiz que me encheu de orgulho e felicidade, esta foi uma delas.

“Quem não vive para servir, não serve para viver…”
Fez deste pensamento, expresso pelo Cónego Mário em momento de comemorações do aniversário da Associação dos Bombeiros Voluntários do Fundão, uma máxima que lhe serve de guia.
Nas mais variadas circunstâncias é por si invocada, a confirmar a sua prática, que todos testemunhamos no dia-a-dia.
Dela têm beneficiado as mais variadas pessoas, entidades ou sociedade em geral, seja na ajuda à constituição de uma empresa, seja na organização da sua contabilidade, seja no desempenho dos mais variados cargos directivos de colectividades, seja na organização de marchas populares que enriquece com a criatividade das suas letras, seja na recuperação de associações em dificuldades financeiras, seja na procura de soluções para a crise directiva de um qualquer clube, seja na elaboração de um projecto para a ampliação de instalações ou sede nova, seja na organização de um peditório para qualquer obra, seja na sua entrega ao verdadeiro sacerdócio que é a causa “vida por vida”, seja …
… Seja no que for, Luís Carvalho sempre se mostrou disponível para ajudar, ou melhor, para servir os outros.
Desta prática, por vezes, alguém sai sacrificado. O que acontece com os que lhe estão mais próximos – a família.
Mas o nosso amigo Luís Carvalho é mesmo assim.
No fim do trabalho, basta um “petisco”, e já se sente retribuído.
Mas esse espírito de servir, esse acumular de gestos a favor dos outros, essa disponibilidade para com aqueles que precisam – pessoas, entidades ou a própria sociedade – é também a forma de conferir dimensão ao Homem que é LUÍS DA SILVA CARVALHO.
Que de si próprio diz:

Eu sou aquilo que sou
E não quero ser diferente
Porque sendo aquilo que sou
Sou o que não é muita gente

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