terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Pelotão de Apoio Directo 1245

Quando publiquei este livro sobre a minha estadia em palco de guerra, Angola, com o relato das minhas vivências em comissão militar, estava longe de imaginar que o historiador e bibliógrafo francês René Pélissier, uma das grandes autoridades em guerras coloniais e com 5 volumes publicados sobre a guerra colonial portuguesa, viria pedir que lhe oferecesse o meu livro.
Mas grande foi a minha surpresa quando agora me envia a pág.195 da revista "Africana Studia" nº. 16, 2011, editada pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, em língua francesa, com uma resenha do livro. Também me diz que essa resenha será publicada nas suas outras edições com os nomes de "Africana", "Du Sahara à Timor", e "Angola. Guinées. Mozambique. Sahara. Timor".
Antes mesmo de lhe enviar o livro, já havia informado René Pélissier de que no mesmo não eram relatados episódios de guerra, mas apenas as vivências de um militar numa unidade sempre estacionada na cidade e com funções de apoio a viaturas e armamento.Mas para alguém que tem vindo a historiar as incidências das guerras coloniais em que alguns países estiveram envolvidos, tudo o que sobre elas se escreva tem o seu interesse, para ajuizar sobre os desfechos dessas guerras e das razões por que os mesmos aconteceram.
E a resenha é elucidativa, face aos aspectos focados:
Mais tradicional no tipo "literatura de antigos combatentes" que aqui decorre, PELOTÃO DE APOIO DIRECTO 1245, é feito por um antigo “sub-oficial”  numa unidade responsável pelo equipamento na Vila Salazar (agora N’Dalatando) entre Outubro 1967 e Dezembro de 1969.
Eles são soldados privilegiados: estacionados na cidade, nunca vão para zonas de guerra.
O texto é revelador de certas atitudes desviantes. Exemplo: um capelão super-armado é encarregado de acompanhar um prisioneiro angolano e de o entregar à PIDE.
Pondo de lado qualquer caridade cristã, ele quer que o motorista do caminhão solte o homem, simule um acidente, alegando tentativa de fuga do preso e o abata (p. 61).
Verdadeiro ou falso, o episódio lembra aquilo que eram "os busca-madeira" durante a guerra de Algérie.
Há também nesta unidade o seu comandante, tenente da esquerda pacifista e humanista.
É difícil, nestas condições, ganhar uma guerra, mesmo de fraca intensidade.
Estas são situações que, em diferentes graus, se encontram em todas as guerras onde os recrutas não se sentem directamente interessados e até mesmo em conflitos dominados por doutrinas baseadas na superioridade de uma raça sobre outra. ……….".