segunda-feira, 4 de março de 2019

UM AVC... É TRAMADO !

O AVC é algo “tramado” na vida de uma pessoa.
Aliviei a expressão para não escrever “deveras traumático” mas, podendo não ser fatal, pode deixar-nos numa situação que nos leva a desejar que o fosse.
Já vivi a experiência de um AVC e partilho a experiência com conhecimento de causa. Por isso mesmo, envio o meu abraço aos amigos e a todos os que lutam pela sua recuperação face a um embate dessa natureza e que as marcas possam ser atenuadas da melhor forma possível.
Foi em 15 de Janeiro de 2004 que me vi sujeito a essa terrível experiência. Estava então prestes a completar 60 anos de idade em 31 de Março desse ano.
Hoje tenho quase 75 anos e tendo passado já por outro dramático trauma na vida, como foi o de ver partir um filho com 38 anos de idade vítima de um tumor cerebral, contrariando leis da natureza que pareciam as mais adequadas à minha própria situação, que era o de assumir o seu lugar visto estar quase no dobro da idade que o filho tinha na altura, nem por isso deixei de acreditar que ainda vale a pena continuar a fruir da vida que me resta. Por mais curta que ela venha a ser.
O livro que escrevi sobre essa terrível experiência, pretendi que fosse um aviso aos que estão sujeitos a vivê-la tal como eu - porque ninguém está livre de tal acontecer - e os testemunhos expressos sobre o relato da minha experiência por quem trata e procura minimizar o efeito de tais situações por dentro - médicos e enfermeiros/as ligados ao problema, bem merecem ser divulgados. Como uma homenagem que lhes presto, mas também e, principalmente, porque a sua palavra pode ser um aviso de prevenção que deve ser levado muito a sério e no momento certo.
 O primeiro comentário foi do Dr. António Lourenço Marques após ter divulgado no meu blog a experiência do AVC. Foi depois repetido a propósito do livro.
"Meu caro Alvaro Vaz: tinha feito o meu comentário no blog, mas parece que não "pegou". Reproduzo-o aqui, não sendo a mesma versão, mas terá o mesmo sentido. A sua descrição do episódio de AVC é uma peça espantosa com uma descrição muito pormenorizada e rigorosa, com todos os elementos clínicos, vistos do lado de quem habitualmente não se pronuncia, o doente, submetido à lupa do médico. Lembra o livro impressionante, Valsa Lenta, de Cardoso Pires, que no caso foi passado também pela ficção de um grande escritor, mas o seu, para mim, é mais minucioso sobre a fase aguda. E, depois, dá-nos conta da vivência psicológica e social (hospital) com uma intensidade absolutamente surpreendente. Temos aqui uma lição de um homem que, para além da coragem, mostrou a sua força intrínseca quanto à importância que atribui ao facto de viver e que cuidados importa ter em conta, para se viver melhor . É uma preciosa lição, de facto, para o nosso quotidiano, um texto que devia ser lido por todos. Todos aproveitaremos, não tenho dúvidas, e certamente também o admiraremos ainda mais. Obrigado por ter partilhado e um abraço."
Também a propósito do livro viria a receber a carta que me permito reproduzir a seguir:

"Diretor Técnico | Psicólogo Clínico
WWW.ASSOCIACAOAVC.PT 
Estimado Sr. Álvaro Roxo Vaz,
Não obstante termos recebido o seu livro no final de Maio, pensamos nunca ser tarde agradecer-lhe com muito entusiasmo a sua generosa oferta e partilha. Li-o neste fim de semana, com imenso gosto e fiquei com uma sensação de muita proximidade com a sua vida, pessoa e respectiva idiossincrasia, que passei a admirar muito.
Além de também ser um confesso admirador do André Rieu e de o invejar pela oportunidade de assistir em Bruxelas ao seu concerto, fiquei sensibilizado pelo seu percurso e capacidade de luta. Pela sua perspectiva existencial e denotada capacidade de amar a vida.
A determinada altura (na página 90-91), refere "... a nível do espirito, do pensamento, da forma como encaro a vida e do que espero dela, ocorreu uma grande transformação (...) Porque pode parecer um absurdo, mas foi preciso sofrer aquele 'safanão' para perceber mais claramente que a vida é o bem mais precioso que eu tenho, mas que não valorizava como devia valorizar (...) hoje tenho plena consciência de que a vida me foi concedida por empréstimo, com o 'compromisso inalienável' de a devolver a qualquer momento."
Acredito que esse nível de consciência, se me permite fazer esta extrapolação e comentário, seja um dos factores mais protectivos e preventivos de qualquer outra repetição de um AVC e de uma vida plena sentido e propósito. Estes onze anos são prova disso! Creio mesmo que este acontecimento de vida em 2004, é um marco de viragem para um reencontro consigo próprio. Uma oportunidade que o Universo lhe concedeu para realmente encontrar o seu sentido ontológico e metafisico mais profundo.
Peço-lhe desculpa pela ousadia em fazer este comentário! Contudo a sua partilha é tão genuina, autentica e reveladora que, enquanto leitor senti, reforço, uma proximidade muita rápida.
Em nome da Direcção da Associação Nacional do AVC e da nossa equipa, gostaríamos de lhe agradecer pelo exemplar que nos enviou, mas sobretudo pela partilha materializada em livro que com certeza inspirará e trará luz a muitos que tenham percorrido este lado mais sombrio da doença.
Estaremos sempre à sua disposição.
Um abraço solidário e com estima,
Diogo Valadas Ponte"
Também por intermédio da diretora do grupo de trabalho da associação Portuguesa de AVC no Fundão e a propósito do livro fui presenteado com o seguinte comentário:
"Boa tarde Sr. Álvaro
Não sei se recordar de mim, o meu nome é Stéphanie Bonito. Sou a diretora do grupo de trabalho da associação Portuguesa de AVC no Fundão. Esteve connosco no nosso primeiro rastreio e presenteou-nos com um exemplar do seu livro.
Infelizmente, a carga horário só agora me permitiu ter tempo para me entregar a esta leitura. 
Contudo, após esta leitura senti-me na obrigação de lhe agradecer por este magnífico momento de leitura que me proporcionou. 
Ainda como estudante de enfermagem e prestes a ingressar nesta profissão, sinto-me grata pela experiência que partilhou connosco e pelos ensinamentos que pude retirar desta, é sempre muito proveitoso ver o lado da doença, do doente, como se sente e como realmente pode ser ajudado.
 Para além do contributo como futura profissional, foi da mesma forma um grande contributo pessoal, pela sua força e persistência em lutar pelos seus sonhos, um grande exemplo para quem tem um futuro desconhecido e pelo qual tem de lutar, e oxalá que o consiga fazer com a mesma garra que o Sr.Álvaro agarrou os seus sonhos.
Por último, foi ainda um impulso e uma força para levarmos este projeto avante com determinação, pela necessidade de estar perto das pessoas, ajudando-as a evitando os fatores de risco, ensinando-lhes como aproveitar e viver a vida com mais qualidade, e longe das doenças cardiovasculares. 
O seu livro ira passar por todos os membros deste projeto, e será certamente um incentivo para todos continuarmos este trabalho.
 Mais uma vez obrigada por esta fantástica lição de vida.
Com os melhores cumprimentos
Stéphanie Bonito"

O meu percurso de vida e a experiência vivida com o AVC, já me ensinaram que nenhum sinal pode ser desprezado. Pode significar evitar ou não evitar uma tal experiência.