Em 2002 fui vítima de um AVC.
Relatei e publiquei em livro a
terrível experiência, oferecendo-o à Associação Portuguesa de AVC, que o
divulgou pelos estudantes que compõem os seus grupos de rastreio, o mesmo fazendo
em relação à Associação do AVC. Ambas manifestaram a sua maior simpatia e
incitamento pela divulgação da experiência, dada a grande utilidade de as
pessoas estarem informadas e alertadas para a possibilidade dum tal
acontecimento consigo próprias.
No livro deixei escrito:
“Naquela altura, com 58 anos, eu seria a pessoa improvável para ser
vítima de um AVC. Julgava eu.
E porquê ?
- Se não fumava desde os vinte e poucos anos…
- Se não tinha uma vida sedentária …
- Se não cometia excessos na alimentação …
- Se não cometia excessos nas bebidas …
- Se fazia caminhadas semanalmente, enquanto responsável pelo grupo Caminheiros da Gardunha …
- Se fazia uma vida bastante activa, derivada de uma acção constante junto de associações de natureza cultural, desportiva e de lazer …
… Eu não deveria temer por uma doença deste tipo.
Julgava eu.
Ou melhor, nem julgava.
Simplesmente, porque nem pensava nisso…”.
Mas o que aquela experiência provocou
em mim foi uma enorme apreensão sobre o que ainda seria possível alcançar na
vida, dada a minha idade daquele momento. Aos 58 anos os meus sonhos estavam quase
intactos e um deles era o de ter a pretensão (?) de atingir a idade sénior, ou
seja, os 65 anos. Mas também sonhava com viagens… conhecer o mundo.
Acabei por atingir a idade sénior
e fui realizando quase todas as viagens que tinha projectado, cerca de 30.
Hoje tenho 74 anos e já
passaram16 desde que me vi sujeito àquele trauma. Mas aquele ainda não havia de
ser o único. Ter perdido o filho com 38 anos, após 25 meses de sofrimento, foi
outro que deixou marcas que não mais se apagam.
Apesar de tudo isto, não amaldiçoo
a minha sorte, não estou farto de viver, nem me zanguei com o deus em que
acredito.
Ora a idade que tenho, já é uma
bonita conta.
E se a minha ambição era atingir os 65 anos, então com
74 posso dizer que tudo o que veio a mais... foi lucro !