domingo, 16 de fevereiro de 2014

Apresentação do livro "Rua da Cale... de passagem !"

A notícia do Jornal do Fundão de 13-02-2014:
A apresentação decorreu no Auditório da Santa Casa da Misericórdia do Fundão, em 15-02-2014, pelas 16:00 horas:
E o David estava lá para tornar especial aquele momento.

E não podia deixar de trazer para aqui, com a devida vénia:

NOTÍCIAS DO BLOQUEIO
Um blogue de Fernando Paulouro Neves
domingo, 16 de Fevereiro de 2014

O ELOGIO DA PEQUENA HISTÓRIA

Fui ontem ao auditório da Santa Casa da Misericórdia participar na apresentação de um livro sobre o Fundão, Rua da Cale... de passagem, de Álvaro Roxo Vaz. E o que fui lá fazer foi elogiar aquilo que se convencionou chamar de "pequena história", que só pode ser feita por quem ama a terra que é a sua casa comum. A Rua Cale é uma rua mítica do Fundão, povoada de imaginário, e eu próprio já um dia publiquei essa viagem mas procurando captar a sua dimensão fantástica, um meio passo entre memória e ficção, que muitas das figuras que a habitaram tinham essa vocação de nos fazer sonhar.
O Áivaro Roxo Vaz empreendeu uma digressão de outro tipo. Ao longo do ano, palmilhou a Rua da Cale e outras artérias afluentes, e, na conversa com o Fernando Carrolo, outro fundanense de raiz, procedeu a uma identificação topográfica, de grande rigor, sobre o que poderíamos chamar a alma daquela rua e de outras, trazendo ao nosso convívio o nome das pessoas que ali viveram ou animaram o intenso comércio. A sua diversidade humana era o seu traço identificador e talvez ela caracterize, sobretudo, a raiz popular e democrática do Fundão, que nasceu dos nossos avoengos camponeses e se dilatou com a capacidade das pessoas dos ofícios, verdadeiras corporações de fazedores que a engrandeceram no plano económico. Talvez nenhuma outra respire esse universo de diversidades e de saberes, que teve a sua glória no tempo em que o Fundão era uma vila.
Este livro chama o nome às coisas e é, por isso, um contributo para a memória local. Lembro-me sempre do que um dia disse Jorge Luís Borges sobre a cidade que amava, BuenosAires, a grande Buenos Aires. Confessou ele que o que mais gostava na sua cidade era caminhar pelas velhas ruas, olhar as antiquíssimas casas e a densidade humana dos seus pátios interiores.
O Fundão, à sua escala, também tem esses encantos particulares, pequenos detalhes que ajudam a definir este nosso microcosmos. O Álvaro Roxo Vaz fez bem em convocar o antigamente da realidade urbana da Rua da Cale e de muitas outras ruas revitalizando a sua memória, que é colectiva e é nossa.
  1. Sinto-me muito gratificado pelo resultado de um trabalho que, sendo feito com o coração, julgava que não fosse assim tão conseguido. Ter-me honrado com a sua presença na apresentação do livro e presentear-me com esta apreciação escrita, ainda mais me gratifica.
    Um grande BEM-HAJA ao amigo de sempre Fernando Paulouro.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Fazer um filho, plantar uma árvore, escrever um livro... não chega... !

É verdade que se diz que "fazer um filho, plantar uma árvore, escrever um livro" é a forma de uma pessoa alcançar a sua realização pessoal.
Mas não é verdade. De todo.
Até porque sobram interrogações.
- Fazer um filho é fácil... mas criá-lo ?
- Plantar uma árvore é fácil... mas quem a rega quando necessário ?
- Escrever um livro é fácil... mas quem se interessa pela sua leitura ?
Por isso eu digo em título que a concretização destes três pressupostos não chega.
Mas aqui acrescento que a nossa realização pessoal também pode passar por aí.
No meu caso, com os dois filhos que tenho, eu sinto-me plenamente realizado.
Pelo contributo que dei ao ambiente, plantando ou ajudando a plantar árvores, enquanto nascido e a viver no Chão de Alverca, junto à ribeira com o mesmo nome, também me sinto realizado.
Quanto ao terceiro pressuposto, também tenho razões de sobra para me sentir realizado.
Não por ter escrito um livro, até porque já cheguei ao nono, todos escritos e editados pelo método da auto-publicação, mas sim pela aceitação e pelo sinal positivo das reacções aos episódios neles relatados, por parte das pessoas que os leram.
O primeiro foi um dos comentários deixados sobre este livro, que relata as minhas experiências na quinta em que nasci e vivi até à idade de 17 anos.
Comentário feito por um leitor a viver no Brasil.
Já sobre o livro que publiquei a seguir, fui surpreendido por um episódio de todo inimaginável, quando decidi relatar a minha estadia em Angola, face à mobilização para a guerra colonial. 


Foi quando recebi de um cidadão francês, de nome René Pélissier, o pedido para lhe enviar um exemplar deste livro e se estava interessado em que dele fizesse uma resenha para ser publicada na revista "Africana Studia", editada pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, e na revista francesa "Tiers Monde" (Paris).
Hesitei em o fazer, mas acabei por responder afirmativamente e enviei-lhe o exemplar que me pedia.
A seguir procurei saber quem era esta pessoa, descobrindo então uma sua entrevista no "Expresso", que me revelava estar perante "um dos maiores historiadores estrangeiros da moderna colonização portuguesa. Estudou a conquista militar de Angola, Moçambique, Guiné e Timor. A viver perto de Paris, tem uma biblioteca de 12 mil volumes e gostaria de escrever uma bibliografia crítica de tudo quanto foi publicado".
Pensei para comigo que, por meu intermédio, ficou a ter 12.001 livros na sua biblioteca e que o assunto morria aí.
Mas não, porque já no ano seguinte, recebo a página 195 da revista "Africana Studia" com a referida resenha, que também me surpreendeu, face ao aspecto que nela tratou.
Mas este livro e o que escrevi mais tarde, sobre as recordações da vida militar enquanto recruta e a seguir no curso de sargentos milicianos, também havia de envolver um episódio curioso. 


Foi quando recebi um telefonema de uma senhora, tratando-me por "meu querido combatente", "meu caro doutor", "como está vossa excelência?" e ... não sei que mais, que me levou a confundi-la com uma amiga sempre muito bem disposta e brincalhona. Isto em 2013.
Ripostei também de forma humorada e brincalhona sobre a forma como estava a dirigir-se a mim, até que me apercebo das suas hesitações e pergunto:- afinal com quem estou a falar ?
Sou então informado de que era a bibliotecária da Liga dos Combatentes, que vinha solicitar-me a oferta destes dois livros para a biblioteca da Liga, por os considerar muito interessantes.
Enviei então os livros, mas este gesto acabou por ser também muito gratificante para mim, ao receber uma simpática carta de agradecimento do General Joaquim Chito Rodrigues, Presidente da Direcção Central da Liga.
E são episódios como este que me fazem sentir realizado, bem mais do que o facto de ter escrito este ou aquele livro.
Mas há ainda um outro aspecto que acho relevante quanto ao que deixo escrito em livro, que é a sua natureza informativa para os eventuais leitores.
Isto refere-se aos livros onde deixo relatadas as viagens que tenho feito, sendo depois contactado por pessoas que me solicitam ajuda para a sua escolha desta ou daquela excursão opcional, das muitas que são oferecidas em cruzeiros ou circuitos que eu já fiz e que essas pessoas também querem fazer.


Ser útil acaba por ser também um contributo para a realização pessoal, através do que fica registado no livro.
Não foram aqui referidos todos os livros, um dos quais está já há cerca de três meses disponível na editora, mas que vai ser apresentado por estes dias no Fundão.
Mas ainda no que à realização pessoal diz respeito, é sentir que vale a pena ter como passatempo a publicação de livros por este método da auto-publicação, que deriva também do facto de ser capaz de manusear as ferramentas informáticais e digitais que permitem a "fabricação total" de um livro pelas nossas próprias mãos, após o que fica disponível na editora para ser adquirido no formato tradicional em papel.
E para finalizar, dizer que este "vale a pena" tem muito a ver com o reconhecimento que esta mensagem me deu a conhecer, sobre o que tenho vindo a deixar escrito.
Vem lá de longe, mas deixa-me gratificado sobremaneira.
E dispensa quaisquer outras palavras.


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Quando me casei... ainda era assim !

Recordar como eram os “outros tempos” por aqueles que os viveram, é sempre um acto de rejuvenescimento das ideias, na medida em que se activa o mecanismo da memória, fazendo-a adaptar-se a outras circunstâncias passadas, em que se usufruía de uma juventude que hoje já não existe.
Muito do que então acontecia poderia ser aceitável ou ainda hoje fazer algum sentido(?) para os que viveram tais circunstâncias, mas perfeitamente inadequado para as novas gerações, se tais práticas fossem reinventadas.
Admitindo que ainda haja locais onde algo de parecido possa acontecer, lembrei-me de um pequeno exemplo, que também me tocou, quando aconteceu a minha boda de casamento.
Para além dos inevitáveis convites, feitos pessoalmente ou por escrito, com uma antecedência considerável, havia a prática de obsequiar nos dias anteriores com bolos e outras doçarias, algumas pessoas a quem se atribuía mais consideração ou por quem se sentiam na obrigação de o fazer.
Era o caso de padrinhos, de casamento e de baptismo, para além de patrões, familiares e até alguns vizinhos.
Tenho bem presente que nesses dias acompanhei a ainda minha noiva com uns tabuleiros carregados de doçaria, fazendo um périplo pela casa dos padrinhos.
E sei que foi ao longo da semana, porquanto na véspera já nos encontrávamos em Fátima, onde no dia seguinte foi a cerimónia religiosa e a boda.
A cerimónia religiosa teve lugar na capela do Hotel Pax.
Já o local da boda, foi na então "Estalagem Três Pastorinhos", que ainda hoje existe como hotel, mas muito diferente de então.
Se na altura era um edifício sem construções à sua volta, hoje tem outras dimensões e faz parte do amontoado urbano em que se converteu Fátima.
Apesar dos quase 43 anos passados, tenho bem presentes todos os momentos vividos nesse dia e nos que vieram a seguir.
Mas há pequenas recordações que ainda conservo, como a conta em que me ficou o processo matrimonial no registo civil e na igreja. Era sempre a desembolsar.
Mas também a ementa ficou como recordação.

E olho a imagem, que não podia faltar, daquele momento tão especial, dizendo... como o tempo passa depressa !